quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A preguiça do (potencial) bom aluno na universidade

Antes de tudo, é preciso frisar que, diferentemente do que parece, esse texto não tratará da preguiça do mau aluno; aquela tão condenada e pronunciada pelos corredores da universidade. Esse texto é uma tentativa de responder o porquê, muitas vezes, o bom aluno é tentado pela preguiça dentro da universidade.

Roland Barthes, em um ensaio sobre a preguiça, discorre sobre um tipo de preguiça que, ao contrário do que pensamos, é virtuosa. Ele divide a preguiça em feliz e infeliz.

Resumidamente, a preguiça feliz é aquela resultada de uma atividade prazerosa, de lazer. Como por exemplo, curtir a preguiça depois de um jogo de futebol ou num fim de semana. A preguiça infeliz, essa sim nosso alvo aqui, é a preguiça do tipo gerada no “modelo escolar”. O professor, de má vontade, impõe aos alunos que façam uma resenha inútil que, além de tudo, ele mesmo não vai ler.

Sendo assim, a preguiça infeliz é aquela gerada pela revolta. O aluno encara o livro e a folha de papel da resenha, sabe que a atividade é sem sentido, e se recusa a fazer. É nesse contexto que as duas preguiças são consideradas virtuosas. Uma permite o ócio e a outra é gerada pela revolta. Para Barthes, por conta disso, é possível que um aluno preguiçoso seja bom.

Na universidade, é o mesmo caso. Enquanto o mau aluno tem preguiça para todas as disciplinas, o bom aluno sabe o terreno em que pisa. Ele sabe muito bem diferenciar os bons professores, aqueles que realmente irão lhe acrescentar algo e orientá-lo para o bom caminho, dos professores ruins. Ele sente o cheiro de longe.

Os professores ruins não cumprem compromissos, não ministram aulas, ensinam com pretensão aquilo que não sabem e cobram trabalhos sem sentido para “encher lingüiça”. Não raro, cobram seminários para que os alunos dêem aula por ele. O bom aluno sabe diferenciar um seminário construtivo, que gera debate, de um dispositivo preenchedor de lacuna pedagógica. Por isso, por zombar e desrespeitar o tempo e o potencial dos alunos, os maus professores causam a preguiça nos bons alunos, que não veem sentido em perder tempo com o que não irá lhes acrescentar nada.

O que tenho visto na universidade é a preguiça em todos os sentidos expostos aqui. É comum ver bons alunos estudando e assistindo impecavelmente tanto disciplinas difíceis, com bons professores criteriosos, como disciplinas “fáceis” de bons professores. Por outro lado, esses mesmos alunos tem preguiça das disciplinas ministradas por maus professores. Isso é bom e ruim, ao mesmo tempo.

A tão debatida preguiça do mau aluno, aquela gerada pelo “não quer nada com nada”, constitui o lado ruim. O lado que, com razão, os bons professores criticam. Já o lado bom está na preguiça revoltosa dos bons alunos, que não aceitam se submeter à falta de respeito com suas potencialidades. O que me parece coerente nesse contexto é que, assim como os bons professores criticam, com razão, os maus alunos; os bons alunos devem ser mais competentes e mobilizados em suas revoltas para com os maus professores. A preguiça infeliz já é um sinal de revolta, mas não é eficiente. É pouco provável que tenha o poder de mudar a situação.

Bons alunos de todo mundo, uni-vos!

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