domingo, 16 de junho de 2013

Anonimato - A faca de dois gumes


Eu gosto quando o Anonymous, com seu conhecimento, quebra regras injustas e trabalha em prol do povo. Acho louvável a intenção do movimento e seu mérito. Agora, eu não posso deixar de pensar que esse movimento tem reunido duas coisas que, juntas, podem ser perigosas: poder e anonimato. 


Já que falar de Anonymous remete ao Fawkes e ao "'V' de Vingança", para tratardessa questão citarei aqui um outro quadrinho, Watchmen: "Who will watch the Wacthmen?". A frase é uma referência ao "Quem vai vigiar o vigia?". A questão é: tendo o vigia um poder nas mãos, quem irá vigiá-lo para que não cometa abusos?

Não foi à toa que Montesquieu separou o Poder Absoluto em Três Poderes. Ele o fez para que os Poderes pudessem se vigiar entre si e, então, houvesse algum tipo de auto-regulação. Na prática, sabemos, não se mostra eficiente sempre, mas já é melhor que absolutismo.

Explicado isso, vamos ao ponto que quero chegar: é difícil negar que o Anonymous, pelo seu conhecimento da rede e sua capacidade de ataques cibernéticos, não tenha um poder considerável nas mãos. O problema é que, detendo esse poder e sendo composto por anônimos, quem é que vai vigiar o vigia? Ou melhor, quem é que vai vigiar o vigia anônimo?

Nossa relação com o Anonymous tem sido constituída por pura fé. Acreditamos que seus membros, os que realmente são ativos nos ataques e etc., são éticos e lúcidos o bastante para quebrar apenas regras injustas. Temos a mesma relação de fé que a população, no Watchmen, tinha com os vigilantes, os Watchers. Porém, e se um dia uma regra justa for quebrada? E se esse poder passar dos limites? E se houver um abuso? Vamos responsabilizar quem, a máscara do Fawkes? A questão, então, passar a ser: vale o risco ter um movimento assim? A pergunta está em aberto. Talvez a história venha a nos responder melhor.

PS: Sei que, ao ler esse texto, alguns entusiastas do movimento irão me taxar de diversas coisas, me colocar num caixinha discursiva de "conservador" e fingir que não ouviram; mas isso não apaga a questão de filosofia política que estou propondo e não faz sumir os riscos do anonimato aliado ao poder. É pra se pensar...

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