terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Da beleza dos silicones

“Homem de verdade gosta de seios naturais”.

Sempre que ouço uma frase desse tipo, ela me soa muito, mas muito falsa. Não que eu esteja chamando todos que a proferem de mentirosos, afinal, alguns homens podem até não gostar mesmo, mas esse tipo de afirmação está muito além do campo da mentira; ela faz parte de um discurso gasto, de uma forma de pensar que não vem sendo muito útil a nós de uns tempos para cá. A análise do discurso reflete muito sobre isso. Sobre os discursos que repetimos, acreditando fielmente em sua veracidade, mas que, no fundo, se pararmos para uma avaliação, questionaremos seus posicionamentos no altar das verdades.

A enunciação sobre os seios naturais me soa falsa por dois caminhos. O primeiro deles é a filosofia, e o segundo, minha vivência como homem. Começarei pela minha vivência, afinal, é simples dizer aqui que, apesar de já ter falado contra o silicone em tempos remotos, sempre apreciei mulheres com silicone. Ou seja, vejam só como o discurso, por vezes, nos torna tolos. Mesmo achando belos vários seios com, ou sem, silicone, eu dizia que “o natural” era melhor. Que bobinho, não? Pois bem, fui achar a explicação para essa minha bobice na filosofia. Se eu pudesse resumir em uma frase o porquê de um seio natural não ser necessariamente mais bonito que um seio com silicone, eu diria: “Porque aquilo que é belo não deve explicações e, ser for pra ser explicado, a questão do ‘natural’ só atrapalha”.  

“Tá, e daí, Tiago? Não entendi p... nenhuma”. Aquele que leu dois posts anteriores, “O Equilibrista e o belo” e “Ariadna e a encruzilhada da identidade”, já está em condições de responder o porquê penso assim. Para entender isso, basta uma pitada da noção de estética, na filosofia, e de uma reflexão sobre o pensamento romântico.

Ora, quando alguém diz que o homem de verdade (que é isso?) gosta de seios naturais, o que ele está dizendo na verdade é que os seios com silicone não são belos porque não são naturais, são artificiais. Esse tipo de pensamento tem tudo a ver com o pensamento romântico e rousseuaniano que coloca o natural como aquilo que é bom. Para o romantismo, tudo que é natural, assim como o bom selvagem, é bom. Quando o natural é bom, ele também é, consequentemente, belo. Ou seja, belo é o natural e, no inverso, o que não é natural é feio. É justamente essa forma de pensar que está na essência do nosso julgamento sobre o silicone. E não só no silicone, mas em outras esferas, como na nossa alimentação também; é supostamente melhor se é “natural”.

Tendo visto isso, e pensando em coisas cotidianas, a coisa começa a ficar complicada. Uma barata seria natural, mas me causa muito desgosto. Um carro seria artificial, mas posso acha-lo belíssimo. Alguns aqui  poderiam objetar com a questões de valores ou culturais, 'ditadura da beleza'; mas, quem não é de Plutão, vive na Terra, e sente atração sexual por outros corpos, não arriscará uma observação gasta dessas. Como já diria o filósofo: "Quem ama o feio, bonito lhe parece. O duro é amar o feio". Assim sendo, seios naturais podem sim não ser esteticamente agradáveis e seios com silicone podem ser belos (poucos homens que conheço atirariam a primeira pedra aqui). 

Acredito que, para falar de beleza corporal, nos tínhamos que esquecer esse pensamento natureba. Pra falar de beleza e de corpo, os antigos gregos podem nos soar melhor, eles sim entendiam de beleza corporal. A ideia de beleza associada à perfeição e à harmonia, proporções, nos livra da natureba e permitem-nos apreciar o silicone sem “blá-blá-blá”. O natural pode ser belo, mas se ele não é, porque não mexer nele? Sem desmedidas, exageros e desproporções, bem ao estilo da antiga grécia, o silicone pode sim ser algo belo. Não da para culpar o silicone pelas nossas neuroses. Conheço muitas mulheres que, saudáveis do corpo e da mente, colocaram silicone e hoje estão mais belas. Se uma mulher, ruiva artificial, arranca suspiros, ninguém está ligando para a cor natural de seu cabelo.

O importante aqui, falando-se de beleza, não é a “naturalidade” dos seios, mas sim a experiência estética, erótica, que ele provoca em sua relação harmônica com o corpo. A beleza do seio tem a ver não com a naturalidade, mas sim com o erótico e a sexualidade. Se os seios naturais de uma mulher não são belos, então, caso ela resolva por silicone, o cirurgião deve ser um artista. Tal como o escultor, cabe a ele transformar o mármore, natural e bruto, num monumento. Cabe a nós, homens, sabermos contemplar.

PS: Alguns podem pensar nas péssimas conseqüências que o silicone, ou uma lipo, mal pensada, apressada, podem trazer. Eu concordo com isso. Mas, seria melhor se pensassemos esse problema indo além da ideia de "ditadura da beleza" -> http://ghiraldelli.pro.br/2010/06/26/quando-o-belo-veio-a-nos-ficamos-feios/

5 comentários:

  1. Bacana!!!
    Vc escreve e se expressa divinamente!
    Parabéns!!!

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  2. Obrigado, Carina!
    Dei uma olhada no seu blog e gostei de muitas fotos, por isso vou segui-lo.

    PS:Você me parece uma bela mulher com uma câmera =)

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  3. parabens pelo blog meu guri!! tentei comentar otro dia e nao deu :S curti o post! abraço!!

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  4. adorei o post, thi!
    achei muito interessante o comentário sobre a "ruiva artificial", e concordo plenamente com o que escreveu..
    o fato de não ser natural não significa que seja inferior, pois muitas vezes o artificial é que dá uma harmonia ao corpo, que faz com que a pessoa finalmente se sinta bem consigo mesma.. e afinal de contas, é isso que importa não é mesmo? :)
    vou dizer novamente, você escreve muito bem :**

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  5. cara brother! da hora seus textos!
    parabens! show de bola.

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