quarta-feira, 29 de maio de 2013

As Tatuagens, Eu e a Filosofia


Sempre gostei de tatuagens, principalmente em mulheres, acho que algumas mulheres ficam muito sexy com desenhos em seus corpos. Mas sempre que pensei em fazer uma tatuagem em mim mesmo, fiquei estagnado: que desenho fazer? 


É que sempre pensei a tatuagem como um símbolo que eu gostaria de marcar no meu corpo porque acreditaria que ele sempre teria valor pra mim. Uma marca eterna para um valor eterno. O problema é que não consigo pensar em nada desse tipo. Quero dizer: até consigo pensar em coisas que tem grande valor para mim hoje, mas a falta de certeza de que daqui há dez anos eu olhe para o símbolo e aquilo já não tenha mais nenhum valor me deixava sem opções, estagnado.

Eu achava que esse tipo de indecisão me aproximava do que o filósofo Richard Rorty chamou de ironista, já que eu não conseguia me decidir por uma tatuagem por causa da crença de que não havia nenhum valor que não estivesse sujeito ao tempo; mas me enganei. Esse tipo de indecisão ainda me deixa com um pé na metafísica: é que mesmo que eu tenha na minha cabeça a contingência dos meus valores, quando vou fazer uma tatuagem, ainda busco algo metafísico, algo que com certeza sobreviva ao tempo, eterno e por isso deixo de fazer a tatuagem. 
Talvez, se eu aceitasse a contingencia da minha tatuagem assim como Freud aceitou as contingencias das marcas que formam a subjetividade, eu faria uma tatuagem sem me preocupar tanto com o valor dela no futuro, mas sim aceitando ela como uma marca contingente que, como tantas outras, fará parte de mim, da minha história. Posso fazer uma tatuagem não pensando num valor eterno, mas perene, que tente sobreviver ao tempo mas que, caso não sobreviva, e daí? E daí se a tatuagem não tiver qualquer valor, ou significado que se pretenda eterno?

Nesse caso, minha atitude para com essa tatuagem no futuro, caso ela venha a perder valor, ou adquirir outro, poderá ser não a da indiferença, ou do arrependimento, mas a do riso. Aí sim estarei mais distante do metafísico e mais próximo do ironista: aceitarei não só a contingência dos meus valores, como também poderei rir deles no futuro, rir da minha história, das minhas marcas, rir de mim mesmo.

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