segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que você queria ser quando crescesse?


Eu sempre ouvi histórias de crianças que, quando perguntadas o que querem ser quando crescer, dizem coisas como: astronauta, médico, atriz, bailarina... Não sei até que ponto elas realmente respondem isso, o que eu sei é que se isso é verdade, meu caso com certeza foi anômalo. 


Tudo bem que certa vez, quando pequeno, uma professora me fez essa pergunta e eu respondi “astronauta”. No entanto, fiz isso simplesmente porque achava que era aquilo que ela queria ouvir. A verdade é que eu nunca quis ser astronauta, fantasiei muito pouco sobre isso.

Meus pais sim sabiam qual era a resposta verdadeira da pergunta de minha professora, pois houve uma época da minha vida, quando pequeno, que eu dizia insistentemente que queria ser frentista. Isso mesmo, frentista de posto! Uma vez, meu pai, para tirar uma onda com um colega que trabalhava no posto de gasolina, me fez essa pergunta na frente do amigo. Obviamente que, como criança, eu respondi sinceramente e eles riram. Depois disso, o frentista me disse: “Você vai ser, no mínimo, gerente do posto um dia, moleque!”. 

Todavia, o que ninguém nunca me perguntou era o porquê eu insistia na ideia de trabalhar num posto de gasolina. Na época, talvez nem mesmo eu soubesse responder a isso muito bem. Mas, me lembrando do que eu sentia quando pequeno, sei o motivo pelo qual a minha antiga fantasia mais tinha a ver com a Esso do que com o espaço sideral.

Acontece que uma das coisas que eu mais gostava de fazer quando criança era viajar, principalmente de carro com meus pais. Íamos de Foz do Iguaçu a Ponta Grossa, ou a Curitiba, visitar meus avós, quase sempre pegando a estrada de madrugada. O momento que o carro entrava na rodovia, pra mim, era sempre de muita ansiedade, expectativa e felicidade. Momento que alcançava seu ápice, sabe-se lá por qual motivo, justamente quando o velho Santana do meu pai parava num posto de beira de estrada para abastecer.

Quando o carro embicava no posto e eu sentia o cheiro de gasolina na madrugada fria da BR-277, sabia que aquele momento feliz era de verdade. O frio, o vazio da estrada escura e o cheiro do posto se tornaram, por uma estranha associação, um sinal material da minha felicidade. Naquele momento, no posto, vendo os frentistas agasalhados na madrugada, trabalhando no meio da estrada e sentindo sempre aquele cheiro, eu os invejava. 

Talvez por isso mesmo eu fantasiasse ser um deles. Pois queria passar uma eternidade preso naquele momento, naquele lugar. Imaginava poder gastar uma vida no meio da estrada, sentindo o cheiro de gasolina e apertando o gatilho da bomba. Eu queria ser um frentista, então, porque pra mim aquilo significava estar sempre durante uma viagem, na parte em que eu me sentia mais feliz, no meio da estrada.

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