terça-feira, 28 de maio de 2013

Os três cavalheiros


Dado o texto do portal Papo de Homem contra o cavalheirismo, acho bom ver que há mulheres discordando que o cavalheirismo seja necessariamente uma forma de opressão contra a mulher. Creio que isso é sinal de que elas veem o cavalheirismo como eu vejo. O cavalheirismo não pode ser definido como o comportamento machista que se veste de cavalheirismo.

Para tentar mostrar como alguém pode ser cavalheiro sem ser machista, traço a figura de três cavalheiros, baseados no uso que fazemos da linguagem no cotidiano:

O gentleman: o primeiro cavalheiro seria gentil com todos, mas principalmente o que considera "mais fracos", seria o que se chama de gentleman (cavalheiro/homem-gentil). Sua gentileza direcionada às mulheres se baseia empiricamente no pressuposto de que, por regra, as mulheres tem menos força física. Além disso, suas atitudes são guiadas pela ideia de cortesia. Mulheres, crianças e idosos sempre em primeiro lugar. Nesse caso, uns diferenciam “cavalheirismo” de “gentileza”. Acho essa distinção inútil tanto pela história do termo cavalheirismo (gentleman), como também porque é melhor diferenciar machistas de cavalheiros (gentleman), que gentileza de cavalheirismo. Cavalheirismo, aqui, é gentileza! É uma descrição do comportamento gentil do homem que é um gentleman. O gentleman não deixará de ser cortês até mesmo com um amigo homem.

O sedutor: o segundo cavalheiro é guiado pelo cortejo típico da sedução. O ato dele tem pouco a ver com gentileza, dado que não tem a ver com a cortesia no sentido do gentleman, nem mesmo com a compensação ou equidade, mas sim com a sedução. Ele entende que certos cuidados para com a pretendente fazem parte do ritual do cortejo: sempre tomar a iniciativa, fazer questão de pagar a conta, se responsabilizar pelos atos de sedução. Chamamos cotidianamente esses atos de "cavalheirismo". Aqui, alguns dizem que sedução seria diferente de cavalheirismo, porque no cavalheirismo, supostamente, o homem faria isso tudo e acharia que a mulher é obrigada a fazer sexo com ele. Eu digo o contrário: se um homem acha isso, então ele não é cavalheiro, nem sedutor-cavalheiro, aí sim ele é machista. Um cara pode ser um cavalheiro-sedutor, aquele que segue o ritual de cortejo que citamos aqui, e ainda sim respeitar o desejo da mulher. Há mulheres, hoje, que já não se sentem atraídas com esse tipo de cortejo, mas isso não torna esse cavalheiro machista se ele respeita o desejo da mulher.

O bom amante: o terceiro cavalheiro tem seu comportamento direcionado à mulher amada. Ele entende que amor é cuidado e, por isso, gosta de mimar a amada, no bom sentido. Por isso, gosta de ser especialmente gentil com ela (especificamente com ela, dado que é seu amor) e antecipar seus desconfortos. Nesse caso, já ouvi que a opressão está em criar uma “mulher dependente”. Acho essa conclusão bem precipitada também. O cuidado é inerente ao amor, e a relação de dependência entre amantes também. Amor parece ser isso! A diferença é que a dependência na opressão não é consensual, já a dependência no amor é, inclusive, até desejada pelos que se amam. Sendo assim, o cavalheirismo aqui é quando vemos um casal que se ama e o homem é especialmente gentil com sua mulher: ele não é necessariamente gentleman, pois não é assim com todos, nem mesmo querendo ser sedutor, pois não está no cortejo; mesmo assim, dizemos: "que cavalheiro que ele é com a esposa!".

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