segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre o tédio


Quando não nos admiramos com mais nada, o tédio virou regra.


Pascal dizia que um Rei não se aguentaria sozinho num quarto. Mesmo sendo a pessoa mais poderosa de todo o reino, ele, sozinho, se entediaria.



Hoje somos todos reizinhos, e somos mais reizinhos ainda na internet. Tira-nos nossos súditos online, cortando nossa internet, e ficamos tal qual o Rei de Pascal: sozinhos num quarto e entediados. 

Dizem que a felicidade plena traria o tédio. Ora, mas nem somos plenamente felizes e andamos entediados do mesmo jeito. Antes ser um entendiado que experimentou a felicidade plena.

Creio que a tecnologia pode ter nos trazido tantas felicidades e surpresas diárias que, viciados nisso, desenvolvemos um tédio de difícil tratamento.

Há uma sabedoria em ditados populares. Entendo que “procurar sarna para se coçar” é um sinal de que às vezes qualquer pequeno sofrimento é preferível ao tédio.

Existe tédio bom? Não sei dizer. O tédio é uma tortura: um sofrimento que diante da possibilidade de cessá-lo, é capaz de tornar outros sofrimentos atraentes.

Numa sociedade entediada, os estimulantes são sucesso de venda. Estimulantes num sentido amplo: até sonífero se toma para estimular o sono.

O que é a balada senão um coquetel de estimulantes, em dose semanal e cavalar, para o jovem entediado crônico?

O tédio é uma coisa tão ruim que, quando entediados, podemos até virar imbecis. 
Qual seria a melhor explicação de certas imbecilidades, e até maldades, senão a popular: “não tem o que fazer!”.

Dizem que a ociosidade é necessária à reflexão. Mas se se fica muito ocioso, o tédio baterá à porta, e a partir daí as reflexões que virão não serão mais suas, mas do diabo; afinal a “cabeça vazia é oficina do diabo”.

Curtir a preguiça e a ociosidade é bom, até que o tédio resolva dar as caras. Pergunte a um aposentado!

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