segunda-feira, 27 de maio de 2013

Blaise Pascal e Super Mario Bros: a condição humana


Acabei de ler um artigo sobre as "18 coisas que pessoas que não jogam vídeo games jamais entenderão sobre games". Uma espécie daquelas listas divertidas que se fazem sobre temas gerais. Só que teve um item que me chamou muito a atenção. Trata-se de uma passagem que qualquer um que já tenha jogado o clássico Super Mario Bros conhece. Você passa por algumas fases, chega no castelo e pensa que vai salvar a princesa, mas aí você acaba salvando alguns cogumelos e eles te dizem: "Obrigado, Mário, mas a nossa princesa está em outro castelo" e então o ciclo se repetirá no próximo mundo, digamos. A IGN, portal que publicou o artigo, então nos diz que os não-gamers jamais vão entender como essa frase, dos cogumelos, é uma frase sobre a condição humana.

Achei isso interessante, pois, de uma certa perspectiva, alguns filósofos já falaram sobre essa mesma condição humana, o que mostra um bom preparo da redação do portal. Um desses filósofos foi Blaise Pascal (sim, do triângulo!). Pascal foi um filósofo que colocou o ser humano numa espécie de movimento incessante pela busca da felicidade plena, ou seja, do infinito. O ser humano aspira o infinito, só que, quando olha para si mesmo, não vê nada, apenar um vazio, percebe apenas sua finitude e, então, se dá conta de sua própria miséria. O recurso utilizado pelo ser humano, então, para não pensar em si, para se distrair do pensamento de sua finitude, seu vazio, sua morte, é o que ele chama de "divertimento" (divertissiment). E o que é isso? Qualquer coisa que o distraia de pensar em si mesmo e, então, de se sentir miserável ou entediado. 

Por isso, os seres humanos, nos dirá Pascal, se colocam nos mais diversos tipos de atividade, colocam para si os mais diversos tipos de objetivos que, se alcançados, eles pensam que serão plenamente felizes com isso. O problema é que, alcançado o tal do objetivo (ganhar o jogo de futebol, caçar o animal "x", ser rico, casar, conseguir acertar o próximo passo de dança...) o homem não se vê plenamente feliz, ele se pega vazio novamente, entediado, miserável e, então, procurará outra atividade, outro objetivo, outra pequena felicidade que parece plena, isso num movimento circular até sua morte, com vistas a ser o menos miserável possível.

Bem, e o que isso tem a ver com Super Mario Bros? Ora, se o ser humano almeja a felicidade plena, o infinito, Mario almeja salvar a princesa. Ela é sua felicidade plena, seu infinito. O problema é que sempre que ele passa por muitos inimigos e obstáculos para finalmente alcançá-la, a princesa se perde; assim como o homem que se coloca num "divertimento" achando que irá alcançar a felicidade plena ao realiza-lo, mas, quando o realiza, se pega vazio de novo. É como se sempre que Mario achasse que alcançou a felicidade plena, salvou a princesa ao vencer o castelo, surgissem os cogumelos e dissessem pra ele: "sinto muito, mas o infinito não está aqui, procure em outro castelo". A busca de Mário para salvar a princesa acaba sendo o seu "divertimento", pois, ao alcançar a princesa, a felicidade plena, ele percebe que não a alcançou, que ela está sempre em outro lugar e a busca continua.

E como se supera isso? No caso de Mario Bros, efetivamente salvando-se a princesa ao se zerar o jogo. Depois de buscar, buscar e buscar, uma hora ele salva a princesa. Seria como pensar que nós, seres humanos, vamos buscando a felicidade plena e, depois de muito fracassar, uma hora vamos conseguir. No caso de Pascal, ele nos dirá que somente através de Deus, ou mais especificamente, de Cristo, é que o homem atinge a felicidade plena, a beatitude. De toda forma, essa é a condição humana de Pascal e Mário Bros.

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